Com o aumento do gás liquefeito de petróleo (GLP) - o popular gás de cozinha, que vem acumulando reajustes mensais desde agosto deste ano - o consumidor vem tendo problemas tanto no uso residencial quanto no comercial. Comerciantes têm sido forçados a demitir funcionários para não repassar os reajustes e o cidadão comum tem recorrido a práticas alternativas, como o uso de fogões a lenha, carvão e álcool, inclusive com registro de graves acidentes.
Em tempos de dinheiro contado, é melhor tirar o gás do que reduzir a feira. O raciocínio é esse em diversas comunidades, entre elas a de palafitas do Pina, na Zona Sul do Recife. A maioria vive de Bolsa Família, e a renda congelada não acompanha as altas. É preciso adaptar. Leydiane da Silva, 23 anos, faz comida com lenha todos os dias, em um espaço debaixo da ponte estaiada do Recife. Junta restos de madeira e monta o fogão com tijolos. “Fazer o fogo aqui já economiza o gás”, ensina.
Na mesma comunidade, um “jeitinho” quase terminou em morte. O menino João Felipe, 5 anos, passou dois meses e cinco dias internado no Hospital da Restauração, na área central do Recife. Ele tem ainda o rosto marcado pelas queimaduras, braços, barriga, peito e pernas. “Estava fazendo comida em uma lata com álcool. Derramou e tudo pegou fogo”, disse a mãe, Josélia Francisca, 29 anos, que também se queimou no incidente, nas pernas e nas coxas. “A assistente social já veio aqui e disse que, se acontecer de novo, vão tirar os meninos da gente”, afirmou a mulher. O perigo é grande: tudo no barraco é inflamável, das paredes de tábua e papelão aos tecidos que separam os cômodos, além da fiação elétrica que cruza o teto.
Ivanize afirma que para fazer as refeições fiquem prontas rapidamente tem que colocar de três a quatro panelas no fogo ao mesmo tempo. “No carvão demora muito e ainda solta muita fuligem. A panela fica preta. Aí já tem outro gasto, com produto para limpar a panela.” Apesar desse trabalho, a dona de casa acredita que conseguirá diminuir suas despesas.
(Folha PE)