Para enfrentar à desertificação na Caatinga, famílias quilombolas avançam na recuperação de áreas no Sertão de Pernambuco

04/07/2022 - Postado por Eugênio Menezes 769

Três comunidades tradicionais, atendidas pelo Projeto Recupera Caatinga, intensificam ações de reflorestamento.

“Achei muito legal aquele momento. Fizemos bolinhas com as sementinhas e depois jogamos na serra com a baladeira para nascer uma arvorezinha”. São com estas palavras que Jeová Mendonça, 11, define seu sentimento em participar da produção e lançamento de bombas de sementes no quilombo de Inhanhum, em Santa Maria da Boa Vista (PE). A oficina foi realizada em meados de junho, pelo Projeto Recupera Caatinga, que conta com o patrocínio da Petrobras. A comunidade é banhada pelo Rio São Francisco, único rio perene, atualmente ameaçado por causa da desertificação.

Em parceria com a escola municipal Cassimiro Lucas, durante dois dias, estiveram reunidas 27 pessoas, sendo 23 crianças. A ampla participação do público infantil rendeu a confecção de 1.417 bombas de sementes para auxiliar no processo de recuperação da vegetação de caatinga, na área de reserva legal no quilombo.

As bombas foram compostas por várias espécies nativas da caatinga que compõem a flora da comunidade. No primeiro dia de atividade, os participantes mirins colocaram a mão na terra para produzir as bombas. Após o preparo, elas secaram ao ar livre e, no dia seguinte, foram lançadas nas áreas de reserva de difícil acesso.

De acordo com a engenheira florestal e técnica de campo do projeto, Geovana Gomes, essa estratégia permite semear centenas de árvores num só dia, com poucos recursos, apostando que a natureza cumpra a sua função. “É muito gratificante poder recuperar a caatinga! E com as crianças colaborando de forma lúdica e recreativa com a conservação da vegetação, mitigando a desertificação e cuidando do meio ambiente, é melhor ainda”, afirma.

Ainda segundo Geovana, a germinação das sementes ocorrerá quando as condições do meio favorecerem a germinação. Isso normalmente ocorre no período chuvoso.

A 112 quilômetros de Inhanhum, está à comunidade quilombola de Jatobá II, município de Cabrobó, também atendida pelo Projeto Recupera Caatinga. Nas últimas semanas, a equipe técnica e famílias participantes do projeto, especialmente a juventude, estão ampliando o plantio de mudas nativas na comunidade.

Dados recentes revelam que o município, localizado na região do São Francisco do estado, é identificado como um dos núcleos de desertificação no semiárido nordestino e aparece no relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) como uma área já desertificada.

Para mitigar os efeitos das variações climáticas e acelerar o processo de restauração das áreas degradadas, reserva legal, e matas ciliares de riachos e do rio São Francisco, o Projeto Recupera Caatinga segue promovendo iniciativas que envolvem as famílias que vivem nos quilombos. Para o engenheiro agrônomo e técnico de campo do projeto, Flávio Paiva, o trabalho exige também o envolvimento de pessoas voluntárias.

“Achamos importante sensibilizar para além de quem já participa diretamente das atividades. Fizemos uma mobilização comunitária para realizar o cercamento de algumas áreas para evitar a entrada dos animais, e ampliar o plantio de espécies nativas já existentes”, explica. O trabalho em regime de mutirão e as práticas de campo oferecidas pelo projeto ocorrem com freqüência, aproveitando inclusive o período chuvoso na região, com o objetivo também de investir de maneira permanente na conscientização ambiental.

Produção e lançamento de bombas de sementes

A confecção de bombas de sementes consiste numa técnica ancestral japonesa que promove o plantio de espécies através do arremesso de bolas compostas de argila, substrato vegetal e sementes. Elas devem ser mantidas protegidas dos insetos, pássaros, da temperatura e da luz. Estas bolas de sementes serão ativadas pelas primeiras chuvas ou pela irrigação manual.

Recuperando a caatinga em números

A intervenção do projeto nos quilombos de Jatobá II, e Inhanhum e Cupira, também situada em Santa Maria da Boa Vista, apresenta resultados significativos. Já foram implantados 68 bosques climáticos familiares, ocupando uma área de 39 hectares; em áreas degradadas o trabalho de recuperação ocorreu em 16,5 hectares, e nas áreas de mata ciliar o plantio de espécies nativas foi realizado em 10,5 hectares. Além disso, 108 propriedades quilombolas já foram arborizadas, e nas extensões de difícil acesso, a exemplo das reservas legais, 60 hectares já estão em processo de recuperação, não só por meio dos plantios, como também através do lançamento de oito mil bombas de sementes até esse mês.

Projeto Recupera Caatinga

O Projeto Recupera Caatinga é uma realização do Centro de Habilitação e Apoio ao Pequeno Agricultor do Araripe (Chapada), com patrocínio da Petrobras por meio do programa Petrobras Socioambiental. A iniciativa beneficia diretamente 270 famílias quilombolas, incluindo crianças, jovens, mulheres e adultos.

Assessoria de Comunicação do Projeto Recupera Caatinga

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