O ministro de Segurança Pública, Raul Jungmann, anunciou essa semana sua desfiliação do PPS, partido que integrou por 26 anos. O documento foi protocolado na terça-feira (21).
No documento, o ministro afirma que se desliga do partido por “discordar da forma pela qual se deu a entrega do seu comando partidário aos que nele ingressarão, uma forma autoritária, que desconsiderou, sem transparência e ao arrepio da democracia interna“.
“Chegou-se ao cúmulo do arbítrio de impedir e retirar membros indicados da delegação do Estado de Pernambuco ao Congresso Nacional do partido e substituí-los ao sabor das preferências do Sr. Presidente nacional, sem qualquer comunicação à direção estadual!“, escreve Jungmann.
A decisão de Raul Jungmann de deixar o PPS ocorre após o presidente nacional da sigla, Roberto Freire, ter decidido adiar o congresso estadual – o que gerou insatisfação das direções dos diretórios do Estado e do Recife. Além disso, o posicionamento crítico dos diretórios estadual e recifense do PPS levou o presidente nacional a ventilar a possibilidade de decretar intervenção no comando da legenda em Pernambuco, caso as negociações para entrada de novos quadros se frustrem.
Assim como o ministro da Segurança Pública, que anunciou a sua desfiliação do PPS, o dirigente estadual da sigla, Manoel Carlos, divulgou, ontem (22), o seu desligamento da legenda. Em carta endereçada ao diretório estadual e aos filiados em Pernambuco, ele criticou a falta de comunicação interna e a “intransigência daqueles que se sentem donos dessa agremiação partidária“.
Manoel Carlos, reagiu à decisão do dirigente nacional, Roberto Freire, de adiar o Congresso Estadual, que seria realizado no último sábado (17), devido a negociações para filiar o deputado federal Daniel Coelho (PSDB).
Confira as notas na íntegra:
À Direção, amigos, amigas, companheiros e companheiras do PPS,
Hoje estou me desligando do meu e do nosso partido, ao qual servi integralmente nos últimos 26 anos, desde sua fundação. Na verdade, rompo hoje uma relação que vem de muito antes, desde o início dos anos 70, tempo da resistência democrática, portanto, mais de 40 anos da minha vida pessoal e pública.
Ao longo dessas mais de quatro décadas, exerci três mandatos de deputado federal, um de vereador do Recife, tendo disputado seis eleições.
Com muita dignidade e honra, representei nosso partido nos mais altos cargos da República, tendo sido, dentre outros postos (*), ministro da Reforma Agrária, da Defesa e já agora da Segurança Pública. Em todos eles, honrei o nome, os princípios e os valores do PPS.
Exerci ainda, e com aplicação, cargos nas estruturas partidárias municipal, estadual e nacional, cumprindo sempre e no limite das minhas capacidades, os encargos, missões e responsabilidades a mim atribuídas ou delegadas.
Desligo-me do partido, meu único partido ao longo de toda minha vida pública (**), por discordar da forma pela qual se deu a entrega do seu comando partidário aos que nele ingressarão, uma forma autoritária, que desconsiderou instâncias, sem transparência e ao arrepio da democracia interna. Chegou-se ao cúmulo do arbítrio de impedir e retirar membros indicados da delegação do Estado de Pernambuco ao Congresso Nacional do partido e substitui-los ao sabor das preferências do sr. Presidente nacional, sem qualquer comunicação à direção estadual!
Nada temos a opor à entrada de novos quadros no partido; aliás, ela se faz necessária diante dos desafios à frente. Mas, à custa do respeito e história dos que fazem e fizeram o PPS, é inaceitável e humilhante.
Sigo na política, escolha de vida inafastável dos meus sonhos de um mundo mais justo e de paz. Foi apenas pelas responsabilidades e riscos de assumir a segurança pública do Brasil nesse grave momento de crise, que declinei de participar das eleições, exclusivamente, este ano.
Aos que permanecem meus melhores votos de felicidade, sucesso e paz.
Jamais imaginei que esse dia viesse ao meu encontro.
Saudações democráticas e de eterno carinho e amizade.
Muito obrigado a todos e a todas.
Raul Jungmann
(*) Secretário Estadual de Planejamento, Presidente do Incra, Presidente Nacional do Ibama, Presidente do Conselho de Administração do BNDES.
(**) Fui, como muitos, membro do MDB durante a resistência democrática.
Aos membros do Diretório Estadual e a todos os filiados(as) do Partido Popular Socialista em Pernambuco
Meus caros companheiros e companheiras do nosso querido e estimado Partido. É com muita tristeza e desapontamento que venho através desta, comunicar o meu pedido de desfiliação do Partido Popular Socialista – PPS.
Militante egresso do Partido Comunista Brasileiro, onde iniciei a minha trajetória, dediquei os últimos 25 anos da minha vida pública e privada na construção de uma sociedade mais justa, fraterna e democrática, e no combate intransigente da intolerância, da arrogância e de todo tipo de preconceito e descriminação.
Neste período, sempre fui um militante ativo dentro daquele que imaginava ser o único Partido ao qual me filiaria, e que tem como slogan “UM PARTIDO DECENTE”, onde exerci com muito zelo e esmero todos os cargos e funções a mim confiados. E que nos últimos dias, vem através do seu Presidente Nacional, me mostrando que não é mais um ambiente onde se possa praticar a radicalidade democrática e a garantia do contraditório.
Quero neste ato, me dirigir aos filiados da minha querida cidade do Cabo de Santo Agostinho, e aos seus homens e mulheres de uma forma geral. Cidade esta, que me concedeu por duas vezes a honrosa tarefa de exercer um mandato de vereador no Poder Legislativo local.
Aos filiados do PPS, quero agradecer pela generosidade e acolhimento que sempre norteou a nossa convivência. Isso é um até breve, porque a nossa disposição em lutar se renova a cada dia e se fortalece a cada desafio superado.
Durante a minha permanência neste Partido, fui vereador por duas vezes, disputei quatro eleições, presidi o Diretório Municipal do Cabo de Santo Agostinho por mais de uma vez, ocupei cargos de gerências nas Prefeituras do Cabo e de Jaboatão dos Guararapes, e sempre atuei ativamente nas tarefas partidárias que me foram delegadas.
Por fim, quero agradecer a experiência e a todos(as) com os quais tive a oportunidade de conviver no exercício da Presidência Estadual, cargo este que exerci nos últimos 12 meses, e que em virtude da falta de comunicação interna, e da intransigência daqueles que se sentem donos dessa agremiação partidária, deixo efetivamente de exercer ao assinar esta nota.
“UM PARTIDO SEMPRE SERÁ MAIOR DO QUE AS PESSOAS QUE OS COMPÕEM”.
Saudações e abraços fraternos!
Atenciosamente, Manoel Carlos